Kuru: A doença dos canibais
A grande questão fisiológica com
o canibalismo é a transmissão de doenças. Algumas doenças são mais facilmente
transmitidas entre os membros da mesma espécie do que entre as espécies, e a
prática de canibalismo significa que qualquer doença presente na fonte de
alimento tem uma chance maior de ser transmitidos ao organismo que come. Por
exemplo, o kuru, doença cerebral que se espalhou entre canibais na Nova Guiné
por causa do consumo de um indivíduo com a doença.
A Doença de Creutzfeldt-Jakob
(DCJ) é causada por uma proteína transmissível chamada príon e leva à desordem
cerebral caracterizada por perda de memória, tremores, desordem na marcha,
postura rígida e ataques epilépticos, e paralisia facial que dá a impressão de
que a pessoa está sempre sorrindo (contração muscular involuntária) devida a
uma rápida perda de células cerebrais. Uma epidemia de DCJ clássica ocorreu nas
décadas de 1950 e 1960 entre pessoas do povo Papua, nativo da Nova Guiné.
Descobriu-se que a causa era a prática de canibalismo ritual. Apresentando os
sintomas da DCJ, essa doença vitimava principalmente mulheres e crianças, as
pessoas que ingeriam cerimonialmente o cérebro de seus familiares mortos, em um
ritual de luto. Este canibalismo ritual foi apontado como o mecanismo de
transmissão de príons na doença, que ficou conhecida como Kuru.
O kuru chegou a matar 1% da
população foré por ano e era transmitida durante os rituais antropofágicos, em
que eram consumidos os cérebros de indivíduos falecidos, com o objetivo de
adquirir sabedoria. Como o tecido muscular era restrito à alimentação dos
jovens guerreiros; as vísceras, ossos e tecido nervoso eram destinados aos
idosos, mulheres e crianças - os principais acometidos pelo kuru. Os príons causadores
da doença levam a alterações nas células nervosas, com consequente formação de
tecido cerebral anormal, ocasionando lesões progressivas e incuráveis no
cérebro.
Ao ser questionado sobre os
motivos da prática do canibalismo, um nativo respondeu “Ao morrer, você não
preferiria ser comido por parentes do que por vermes?”. O médico Michael Alpers
descreve em um artigo o que levava os foré a tal prática “Se o corpo fosse
enterrado, seria comido por vermes; se o corpo fosse colocado em uma
plataforma, seria comido por larvas; os foré acreditavam que era muito melhor
que o corpo fosse comido por pessoas que amavam o falecido do que por vermes e
insetos. Ao comer seus mortos, eles eram capazes de mostrar seu amor e
expressar sua dor”.
Antropólogos, entretanto,
adicionavam um macabro elemento a este costume. Segundo eles, havia um elemento
gastronômico em tal prática. Alguns foré disseram que seres humanos eram
deliciosos, especialmente o cérebro. Por amor ou pelo gosto, o fato era que
esse ritual mortuário os levava a morte. Enraizada numa prática ritualística
cultural, o ato de comer o cérebro dos parentes mortos levava os foré a uma
horrenda e prematura morte. Sem saber que tal prática levava à propagação da
doença, outros parentes comiam os cérebros infectados daqueles que morriam pela
doença e assim ela continuava a dizimar todo o povo foré.
Anteriormente, a prevalência
desta doença era de 14%, sendo que destes, a maior parte era composta por
mulheres e os cozinheiros responsáveis pela preparação do cérebro para seu
consumo. Após a abolição do canibalismo na região, esta doença foi praticamente
dizimada, sendo considerada atualmente como uma doença prestes a ser
erradicada. Embora ainda seja comum no continente africano onde ainda existe a
prática do canibalismo.
Uma filmagem feita em 1963 mostra
a agonia de uma vítima de kuru.
Para mais informações sobre os príons, visite o blog prionsmesalvem.blogspot.com.br
Fontes:
No caso relatado, temos uma associação entre príons e doenças. Muitas vezes essa relação pode ser feita, como no caso do mal da vaca louca, mas deve-se lembrar que os príons não atuam exclusivamente em doenças. Isso quer dizer que os príons fazem parte, naturalmente, do nosso corpo e ajudam a executar funcionalidades importantes. Por isso, não deve existir uma associação exclusiva dos príons com enfermidades. Outro ponto a ser ressaltado na postagem é a importância do governo e dos órgãos de Segurança Alimentar na questão de doenças como o Kuru, uma vez que a doença pode ser evitada a partir de uma disseminação de informação e através de legislações por parte dessas organizações.
ResponderExcluirA Doença de Creutzfeldt-Jakob, inicialmente era associada pelos habitantes das tribos antropofágicas como resultado de práticas que envolviam feitiçaria. Com as devidas informações sobre as causas e formas de contrair a doença, essa teve seus índices bastante reduzidos, pois com o tempo, o hábito do canibalismo estava deixando de existir, mas o Kuru não deve ser considerado como uma doença agora inexistente, pois o príon causador pode ficar em estado de latência por um longo período de tempo. A última vítima fatal do Kuru era uma mulher de 61 anos que convivia com o príon adormecido por 50 anos. Assim como esse exemplo, outros podem ocorrer da mesma forma. Então, a sociedade médica internacional deve se atentar para o controle adequado da doença.
ResponderExcluirInteressante ressaltar que estes príons levam a alterações nas células nervosas, com consequente formação de tecido cerebral anormal, ocasionando lesões progressivas e incuráveis no cérebro. Foram descritos três estágios da febre Kuru, de acordo com a evolução das manifestações clínicas: fase ambulatorial (caracterizada por tremores generalizados, perda de coordenação dos movimentos, disartria e presença de danos cerebrais incipientes); estágio sedentário (perda de capacidade de deambular de modo independente, tremores mais severos, ataxia e sintomas psiquiátricos - instabilidade emocional, depressão e bradipsiquia - . Nesta fase, a degeneração muscular ainda não é evidente e os reflexos tendinosos encontram-se preservados); fase terminal (perda da independência, ataxia severa, tremores, disartria, incontinência urinária e fecal, disfagia, ulcerações cutâneas e convulsões que levam à morte).
ResponderExcluirExistem no nosso corpo príons normais que fazem parte do organismo como uma proteína qualquer. Entretanto, a prática de comer cérebro humano pode provocar uma alteração desse príon normal em um príon anômalo e maligno, que é capaz de alterar a estrutura dos neurônios de uma forma a causar uma morte irreversível, fato que ocorreu no caso do povo Papua e também entre vacas que comiam ração que restos de outras vacas. Entretanto, esse fenômeno não foi observado em nativos americanos que também eram canibais e também não ocorre em filhotes de certas espécies de tubarões, que comem seus próprios irmãos ainda como fetos, o que prova que o canibalismo não é uma prática tão anormal na natureza e, mesmo estando tão relacionada a doenças, ainda deve ser bastante estudada.
ResponderExcluirAs pesquisas dos médicos os levaram a novas e incríveis descobertas. Eles descobriram que o príon era o agente infeccioso do Kuru (agente infeccioso composto principalmente de proteína). E, atualmente, todas as doenças conhecidas de príons afetam a estrutura de cérebro ou do tecido neural, e todas são incuráveis e fatais. A descoberta foi uma reviravolta para comunidade científica, já que era a única doença epidêmica conhecida de príon a atacar seres humanos.
ResponderExcluirOs príons são proteínas que existem no nosso corpo e podem está relacionados ao funcionamento correto da memória. Contudo, existem formas mutantes dessas moléculas e são elas as que causam as graves doenças priônicas. A diferença entre um príon saudável e de uma forma anômala está na estrutura da proteína, enquanto a normal possui alfa-hélice a infectante possui beta-folha, o problema maior está no poder infeccioso da forma mutável em contaminar as outras, fazendo, assim, com que a doença seja fatal. Sabe que uma alimentação canibal é uma forma fácil de contaminação de príons, por isso o Kuru se alastrou rápido pelas comunidades africanas canibais, mas por se tratar de um processo cultural, fica difícil tentar impedir que esses indivíduos não se alimentem de carne humana.
ResponderExcluirUma espécie possui muitos parasitas específicos para sua espécie e que não conseguem contaminar outras. Eis o grande perigos do canibalismo: o fato de males de sua espécie terem mais chances de ser transmitidos. Mas não se deve esquecer também que o consumo de outras espécies, como gado e suínos transmite doenças como cisticercose e teníase.
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